Anteriormente em: eu só podia estar louca?
Edição nova pra me forçar a escrever em formatos diferentes.
Uma crônica grande pode levar semanas para ficar pronta. É preciso tempo e sensibilidade para costurar todas as referências e observações que nos levam até a famigerada conclusão chamada Último Parágrafo. Então, para driblar meu perfeccionismo - leia-se ansiedade - e a falta de constância com os compromissos que assumo comigo mesma, resolvi criar esse quadro/formato intermediário nesta newsletter de apenas duas edições. Mas não só por isso.
Acontece que às vezes imagino a minha vida como uma daquelas séries procedurais. A cada episódio somos apresentados ao vilão da semana ou ao causo da semana até que, num episódio ou outro, o roteiro traz informações e plots da narrativa principal e a gente fica "uou então era sobre isso!!!".
Então é sobre isso que serão as edições "Anteriormente em": micro crônicas sobre os meus pensamentos em forma de indicações de coisas que me fizeram refletir sobre os meus vilões e causos da quinzena. Espero que vocês gostem e me perdoem. Às vezes a vilã sou eu mesma.
#01 A perda dos elogios: Teledipity
Essa semana eu refleti exaustivamente sobre validação externa e percepções, o papel dos feedbacks e elogios, os motivos para sair ou para continuar em determinados espaços. Imaginem a minha surpresa quando, às 11h da manhã, recebi meu primeiro email do Teledipity, com o título "Who will praise you now, Vanessa?". Exatamente, Teledipity! Exatamente…
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#02 "Você pode relaxar seu triângulo da tristeza?"
Em um daqueles momentos tragicômicos da vida do pobre clássico, o meu bom e velho guerreiro Xiaomi MiA2 descansou em paz, depois de longos 5 anos de muitas quedas, enquanto eu assistia o indicado a Melhor Filme no Oscar 2023, Triângulo da Tristeza. Eles chamam de "triângulo da tristeza" aquela marca de expressão que se forma entre as nossas sobrancelhas quando franzimos a testa, geralmente por preocupação, e é uma daquelas obras que seguem a tendência recente de rir de rico, junto com The White Lotus, Succession e O Menu. Pensei sobre isso pela primeira vez depois que a Carmela Moraes, minha amiga gênia e colega de trabalho, trouxe esse insight em uma das nossas reuniões. Vocês podem ouvir mais sobre isso no comentário do Michel Alcoforado no Pra Onde Vamos? de umas semanas atrás.
Naquele dia eu estava mal, decepcionada com a informação de que uma movimentação de carreira que eu quero há um bom tempo ainda não vai acontecer e, consequentemente, a grana que eu queria também não vai entrar. E aí o meu celular quebra! No fim das contas não me deu alívio nenhum ver rico se dando mal, porque, como diriam As Meninas, grandes pensadoras comunistas dos anos 90, o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre. No meu caso, 3.500 reais mais pobre. Se quem ri por último, ri melhor, com certeza não fui eu. As estruturas continuam aí e o meu triângulo da tristeza deve ter virado um polígono.
Triângulo da Tristeza está disponível no Prime Vídeo. Vem passar raiva você também!
#03 Meu primeiro iPhone
Depois de uma vida inteira entre Samsungs e Xiaomis, finalmente virei uma comunista de iPhone. E, como tudo que acontece na minha cabeça, não foi uma compra que veio sem a famosa crise.
Como é complexa a relação pessoas periféricas e consumo. E se eu ou alguém da minha família sofrer um acidente grave ou adoecer? E se a nossa casa pegar fogo? E se eu perder o emprego? E se eu for assaltada? Nunca vou me perdoar por ter gastado 3500 reais em um celular.
Reassisti o curta-metragem O Sonho Periférico, do meu querido amigo Wesley Xavier, onde ele fala sobre como um par de relíquias da Mizuno pode ser um marcador de diferenciação e liberdade nas periferias de São Paulo. Precisou uma mãe, um namorado, dois melhores amigos e uma sessão de terapia para aceitar que eu posso ter um iPhone e que não preciso me justificar por isso.
#04 Liberdade ou Solidão
Um dos meus maiores medos é virar um daqueles posts Liberdade ou Solidão?, com textos sobre como a tecnologia nos aproximou dos distante e nos distanciou dos próximos, etc.
Quinta-feira fui a um shopping chique de Belém resolver burocracias da vida adulta e decidi jantar antes de voltar para casa. Estava acompanhada da Laurinha Lero no meu fone, rindo sozinha das divagações aleatórias dela, é claro. Notei que o lugar estava levemente cheio. Do meu lado direito um grupo de homens brancos hétero, conversando e rindo como os donos do mundo que são, do meu lado esquerdo duas mulheres brancas, mais maduras e muito bem vestidas pediram risoto de camarão.
A atendente veio com um par de talheres e pratos, perguntou o meu pedido. "Um Ilha do Combu no ciabata e esse chopp de Tijuca bem gelado. Pra um, obrigada.", olhando pra o prato e os talheres extras que ela trouxe.
O grupo de héteros e a dupla de empoderadas se alternavam me olhando. Tenho quase certeza que vi um deles apontando uma câmera pra mim. Se alguém me encontrar por um Instagram alheio, digam que estou bem, sã e salva.
Obrigada por ficar até o final! Como falei na edição passada, tô reunindo lá no meu Twitter a lista de tudo que tô ouvindo e vendo em 2023. Dá uma passada lá e me segue:
É uma coisa da doutrinação religiosa que sofremos tbm, afinal "o diabo anda em derredor como um leão que ruge procurando alguém para devorar"
É claro que somos horrorosas e seremos mastigadas... A religião, a sabedoria popular, a realidade pobre e periférica fazem a gente ter certeza de que não é pra nós nenhum tipo de estabilidade e segurança
Sobre o lance da crise periférica, a gente fica sempre tendo que esperar a próxima tempestade e acaba ficando tenso. A tensão de não gastar, a tensão de desejar, a tensão de ficar se perguntando se devemos ou não ter algo assim. Imagina ser herdeiro e não precisar preocupar com essas coisas?