#07 Anteriormente em: eu só podia estar louca?
Verdades, controle e conchas raras em Recife, João Pessoa e Natal.
Olá, leitor.
Te escrevo direto da reta final do meu Comer, Rezar e Amar baixa renda pt-br. Dois meses se passaram desde a última edição, quando cheguei à Recife, falando de casa, quartos de hotéis e colapsos. Talvez, ao ler esse Anteriormente, tu tenhas a sensação de que sigo monotemática e estou mesmo. Sair de casa, viajar, reencontrar um amor é mesmo tudo isso que dizem e, como a boa romântica idealista que eu sou, me recuso a negar esse clichê.
Na próxima eu venho cumprir velhas promessas e algumas novidades. Por enquanto, fica com essa playlist que criei enquanto escrevia essa edição.
Até a próxima. ;)
#01 Rua do Sossego
Quase nunca as coisas são como a gente imagina. E nem os meus mil anos de análise me prepararam para o nível de dissociação que eu tinha a meu próprio respeito quando cheguei à Rua do Sossego, no bairro de Boa Vista, em Recife.
Eu, um belíssimo exemplar de Escorpião com Ascendente em Virgem, belenense do Jurunas apegada a tudo que enraíza, e sempre repetiu pra si mesma e por aí como se sentia uma pessoa introvertida, pensei: “Quem é toda essa gente? Vou durar dois dias aqui”, com o olho esquerdo tremendo.
Dois dias viraram doze e um coração nostálgico embarcou no ônibus pra João Pessoa, por deixar Ingrid e Ingra, o casal baiano de voluntárias, assim como o cachorro Bento e o gato Gunga, e também Vitória do Ceará, que ia e voltava de Porto de Galinhas pra um curso de mergulho, de Pedro, meu amigo bartender na noite do Bloco do Eu Sozinho, que me lembrou como é bom ser uma independent woman. De Sol e Kira, que me acolheram tão lindamente nos últimos dias.
O Zili Hostel é especial. E tá na Rua do Sossego por algum motivo. Eu tenho certeza que é porque duas quadras abaixo é a Rua do Hospício. Assim como na vida, a linha é tênue.
#02 Tudo muda o tempo todo
Estar perto do mar é tudo isso que dizem mesmo, é inútil fugir desse clichê. Assim como do som das ondas quebrando, da areia subindo pelas pernas e do sal invadindo as narinas.
Quando sentei nas areias da praia de Manaíra pela primeira vez, chorando de saudade de quem eu deixei em Belém e de quem eu ainda encontraria no Rio Grande do Norte, me veio à memória uma aula de filosofia que tive no pré-vestibular, lá pelos anos 2000. O professor usava "Como Uma Onda No Mar" para explicar o conceito de dialética. Ele também era meio cronista das ideias, pensando bem.
Esse pensar a vida como movimentos e transições em um ciclo sem fim, assim como as ondas no mar, sempre foi doloroso pra mim. A minha realidade sempre impôs uma necessidade não de estar, mas de ser pronta pra qualquer coisa, de ser definitivamente alguma coisa. Mas aquelas horas olhando as ondas recuando, avançando e quebrando no mesmo mar pareciam explicar o que eu senti na estrada até João Pessoa.
Enquanto o meu encantamento com o passageiro aumenta, o meu apego por ser, aos pouquinhos, se dissolve na margem. Não sem repuxar violentamente às vezes.
No fim, passei por João Pessoa que nem um raio. Eu tinha que reencontrar o mar onde o meu rio deságua e não podia mais esperar.
#03 Uma moça de rio, com braço de mar
Desobedecendo todo o planejamento traçado detalhadamente até o fim da viagem, essa semana completou um mês que eu deveria ter ido embora do Rio Grande do Norte. Quanto mais eu tentava deixar Natal, mais eu me sentia um molusco abandonando as minhas conchas duras demais espalhadas por aí.
Só que às vezes, a casca abandonada de alguém é o presente raro de outro.
Não sei vocês sabem, mas as conchas são estruturas que animais como os moluscos constroem para se proteger de predadores. Mas elas são tão duras que quando os moluscos morrem, elas seguem pelas margens das praias por muito tempo antes de se decompor. E algumas são encontradas antes disso e se tornam presentes. Como a que eu ganhei.
E agora segue tatuada em mim - espelhada com o meu peixinho dourado - pra lembrar que às vezes as convicções que a gente constrói e os erros que a gente perpetua pra se proteger são mais duros do que precisam ser.
Obrigada por ter lido até aqui!
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